sexta-feira, 19 de outubro de 2007

O correntaço de 11 de outubro às portas do Piratini*

Por Clovis Oliveira**
Uma experiência de luta nova e vitoriosa do Cpers-Sindicato, com a mesma força das mobilizações mais importantes de outros tempos da nossa história. Eram 4h45 da madrugada do dia 11 de outubro, quando quatro ônibus estacionaram em frente ao Palácio Piratini, sede do Governo do Estado do Rio Grande do Sul, conduzindo duzentos trabalhadores em educação, cada um enrolado em uma grossa corrente de aço de um metro e meio de comprimento presa à cintura por um cadeado. As portas dos ônibus se abriram e todos correram rapidamente e em silêncio para os portões do Palácio, onde se prenderam como puderam às grades, também com cadeados.
Às 5h todas as entradas do Palácio Piratini que dão para a Praça da Matriz estavam bloqueadas por uma rede de correntes entrelaçadas em uma extensão de mais de cem metros. Somente então a guarda do Palácio percebeu a ação. Logo após às 5h começaram a chegar o carro de som, o bumbo, o clarim para comemorar a alvorada e os primeiros ônibus com as delegações dos núcleos regionais, além da imprensa. Cantava-se o Hino Riograndense e o do Cpers.
Lá pelas 7h estavam reunidos 2 mil manifestantes, o suficiente para ocupar a rua em frente ao Palácio e para inviabilizar a ação da polícia de choque e da cavalaria da Brigada Militar, que enviadas para desencadear a repressão, acabaram recebendo ordens para se retirar do local. Bandeiras do Cpers foram hasteadas nos três mastros do Palácio.
Se fizeram presentes e usaram da palavra, vários representantes dos sindicatos de funcionários públicos estaduais e municipais, e dos sindicatos da Conlutas, Intersindical e Cut, além dos estudantes das escolas públicas, que acorreram em grande número à manifestação. A solidariedade das organizações dos trabalhadores e dos jovens foi fundamental para respaldar o correntaço e afastar a repressão.
Esta ação criativa, ousada e bem organizada caracterizou mais um protesto do Cpers contra a política autoritária do governo Yeda, que se recusa a discutir a pauta de reivindicações da categoria e desmonta a escola pública do RGS, deixando-a sem verbas, professores e funcionários, juntando turmas em salas com 50 ou mais alunos, inclusive multisseriadas, municipalizando e introduzindo a avaliação externa nas escolas.
A manifestação foi também contra os fundos previdenciários criados pelo governo estadual, o pacote econômico que remeteu para a Assembléia Legislativa, aumentando impostos, cortando verbas e congelando salários, e as privatizações que ainda pretende fazer, depois de ter vendido uma parte do Banrisul. No plano nacional a luta era contra a Reforma da Previdência do governo Lula.
A manifestação foi organizada de comum acordo entre a direção do Cpers e várias das diversas oposições sindicais existentes, e foi muito bem sucedida, mesmo considerando que, de uma maneira geral, perduram as dificuldades de mobilização da categoria.
O ato público foi encerrado às 10h30, quando os manifestantes libertaram-se das correntes, não tanto pela concessão ali arrancada do Governo do Estado de abrir as negociações em torno da pauta de reivindicações da categoria, mas principalmente porque o encerramento do ato estava programado para acontecer antes do feriadão, e ainda na parte da manhã.
Das 5h às 10h30, o funcionamento do Palácio Piratini esteve praticamente paralisado. Durante este período várias rádios de Porto Alegre transmitiram informações sobre a manifestação e realizaram enquetes de opinião, que revelaram que a maior parte dos ouvintes apoiava o correntaço do Cpers.
Na tarde do mesmo dia, reuniu-se o Conselho Geral do Cpers, ampliado com o triplo de participantes. A principal das deliberações do Conselho foi a participação dos trabalhadores em educação no dia de greve dos funcionários públicos estaduais que está sendo organizado para o dia 7 de novembro.
Uma pequena reflexão
A corrente sempre foi um instrumento da escravidão, da opressão e da privação da liberdade. Na circunstância da manifestação de 11/10/2007, demonstramos que a corrente também pode ser usada de forma coerente como um símbolo da luta contra o autoritarismo e pelo direito de manifestação. Atribuímos um novo significado a corrente, associado à idéia de união, onde cada elo é importante e cumpre a sua função, e o fizemos em uma jornada marcada pela disposição de luta. Chamamos todos a organizar desde já a greve dos funcionários públicos estaduais de 7 de novembro, o próximo passo da luta contra a política neoliberal do governo Yeda.
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*Clovis Oliveira é professor, membro do Conselho Geral do Cpers-Sindicato e militante do CEDS-Centro de Estudos e Debates Socialistas.
** Um relato pessoal do "correntaço" realizado pelo Cpers-Sindicato no 11 de outubro, que entendo deva ser noticiado aos trabalhadores em educação, e àqueles que militam no movimento operário e popular. Peço que me desculpem pela narrativa excessivamente detalhada que fiz, própria de quem saiu estimulado pela experiência que participou, mas ela acaba sendo importante para uma melhor compreensão da jornada de luta.
*** As fotos foram retiradas do site do Cpers.